Cose di croniche

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As bicicletas em Amesterdão – da perspectiva ignorante de quem não esperava o que viu

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Eu já tinha ouvido falar nas bicicletas em Amesterdão, e imaginava a harmonia e civismo plenos. Pessoas loiras, altas, a transpirar civismo (a transpirar pouco, muito civismo), pedalando alegremente. Mas não. Pessoas são sempre pessoas, e o que acontece são os mesmos olhares fulminantes que nós no trânsito, as rosnadelas e ameças. Sim, há fúria à solta nas ciclovias de Amesterdão. Só que não está dentro das cinco portas e janelas. Acaba por ser mais frontal, talvez.
Além disso, e do ponto de vista do peão, o maior cuidado a ter nas passadeiras é mesmo com elas. A prioridade é das bicicletas. Passam à frente de carros, peões, eléctricos. Como? Não sei, mas é assim.
Depois, está toda a gente perfeitamente adaptada a esta realidade. Aplausos, por favor. Não há gente atrapalhada com transporte de crianças e animais. Bicicletas com uma e duas cadeirinhas, ou o caixote onde vai a família, são mais que muitas. Está perfeitamente enraizado e percebe-se que para muitos deles, é inconcebível não ser esse o meio de transporte prioritário. Gosto de imaginar o português a chegar ao trabalho de bicicleta, entre o orgulhoso e o melindrado porque os colegas vão perguntar pelo carro, atrapalhado com a justificação a dar, mesmo que no fim-de-semana o plano ecológico-físico tenha sido a melhor ideia desde a roda.
O lado sociológico parece-me interessante também. Em Amesterdão não deve haver muito drama com empréstimos para carros, e não ter um não deve ser problemático. Socialmente, digo. As dores de cabeça que isso poupa, a fanfarronice guardada no armário, para não falar das inspecções, revisões, selos e seguros que não devem ser uma dor de cabeça nacional. Picanço que é picanço, faz-se a pedalar. Sim, também vi.
E o tempo? Pois, o tempo. My point exactly. Eles não querem saber. Suponho que com temporal evitem, mas não é uma chuvinha que os trava, isso vi eu.
Pronto, ide a Amesterdão se não lá fostes ainda e dizei-me que fazem em todos os canais bicicletas presas, que eu e o João agradecemos. Sim, são de pessoas. Mas onde estão? A que horas as deixam, a que horas as levam? E toda a gente sabe onde deixou a sua? E no parque para 2500? É fácil encontrar?
Se o apanharem, vejam a limpeza do canal. Dois barcos, uma emoção. Basicamente o homem que manobra o guindaste, está sentado numa poltrona e joga um mega-jogo daqueles de pescar peluches. Só que com objectos maiores que aterraram no fundo do canal. Tropecei numa turma, em cima de uma ponte que rejubilava cada vez que saía bicicleta do lodo. Fiquei a ver e é viciante. Tive de me obrigar a sair dali ou este post seria bem maior: uma ida a Amesterdão – as bicicletas e os dias à beira do canal.

Written by Marta

Outubro 8, 2010 às 3:18 pm

Publicado em Crónica

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3 Respostas

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  1. ia sendo atropelado três mil e quatrocentas vezes numa semana. e nenhuma foi por um carro. não consigo confiar numa cidade assim.

    joão gaspar

    Outubro 8, 2010 at 3:22 pm

  2. melhor do que ficar a ver, é mesmo conduzir o biciclo como um amsterdarmer, coisa que fiz durante um mês…

    mr

    Outubro 8, 2010 at 3:37 pm

  3. há coisas “deles” que não são perceptíveis a um latino… ou a um tuga, acho. por exemplo: eles também têm motos, e tem-se moto para andar pelo meio das filas de trânsito, para tornar a deslocação mais rápida. não na Holanda. lá eles compram motos. vão para a estrada. há fila. ficam na moto à chuva à espera, como se fossem um carro.
    e números? habitantes: 16 milhões (aprox.) / venda anual de bicicletas: 16 milhões (aprox.)
    (tudo no canal ou eternamente amarrada num mega bicloestacionamento? TODOS?)

    joao moreira de sa

    Outubro 8, 2010 at 5:25 pm


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